A espiritualidade existe desde que o ser humano irrompeu na natureza. A religião é a institucionalização da espiritualidade, como a família o é do amor. Há relações amorosas sem constituir família.
Há espiritualidade sem identificação com religião.
As religiões são recentes, datam de oito mil anos. Em geral, elas se apresentam como catálogos de regras, crenças e proibições, enquanto a espiritualidade é livre e criativa. Na religião, predomina a voz exterior, da autoridade religiosa. Na espiritualidade, a voz interior, o toque divino.
A religião é instituição; a espiritualidade, vivência.
Na religião há disputa de poder, hierarquia, excomunhões, acusações de heresia. Na espiritualidade predominam a disposição de serviço, a tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia, a sabedoria de não transformar o diferente em divergente.
A religião culpabiliza; a espiritualidade induz a aprender com o erro. A religião ameaça; a espiritualidade encoraja.
A religião reforça o medo; a espiritualidade, a confiança. A religião traz respostas; a espiritualidade, perguntas.
Há crentes que fazem de sua religião um fim. Ora, toda religião, como sugere a etimologia da palavra (religar), é um meio de amar o próximo, a natureza e a Deus.
Aquele que pratica os ritos de sua religião, acata os mandamentos e paga o dízimo, mas é intolerante com quem não pensa ou crê como ele, pode ser um ótimo religioso, mas carece de espiritualidade. É como uma família desprovida de amor. A espiritualidade deveria ser a porta de entrada das religiões.